Uma das razões que me fez criar a campanha de Natal Duende Verde, foi o pânico em que fico cada vez que penso nas montanhas de lixo ao lado dos contentores no dia de Natal. Mas esta é apenas a ponta de um iceberg muito bicudo que está a derreter a toda a velocidade… ficam aqui algumas sugestões para reduzirmos a nossa pegada ambiental este Natal.
1. Reduzir as compras
A melhor maneira de evitar lixo e emissões é mesmo não comprar. Em muitas famílias já se praticam hábitos de comprar menos presentes, por exemplo, oferecer só às crianças ou tirar à sorte um amigo secreto, de maneira a que cada pessoa da família compre apenas um presente e cada um receba apenas um presente. É difícil, pois o Natal é uma tradição bem enraizada na nossa cultura e gostamos de dar e receber… então para os presentes que realmente queremos dar, existem algumas maneiras criativas de o fazer de maneira a proteger o Planeta.
2. Dar presentes feitos por nós
Este é um hábito que se foi perdendo devido ao aumento do poder de compra e à diversificação da oferta de presentes que todos os anos nos bombardeia casa adentro por todos os meios de publicidade… Quando era pequena fazia com a minha mãe pequenos enfeites de árvore de Natal feitos em barro, saquinhos de alfazema, quadrinhos em ponto cruz. Ainda há pouco tempo fui à casa antiga da minha família, onde todos os antepassados infelizmente já partiram, e lá estavam os meus quadrinhos de ponto cruz, com um ponto tosco de criança, pendurados na parede. Presentes que tocam o coração e duram para sempre. Algumas ideias além destas são bolachinhas numa lata bonita reutilizada, desenhos emoldurados, um cachecol tricotado à mão, compotas caseiras, um mundo de possibilidades cheias de significado! Podemos usar materiais reciclados para fazer os nossos presentes e tornar tudo isto num projeto de família ótimo para as tardes de recolher obrigatório…
O Pinterest é sempre um bom sítio para tirar ideias.
3. Apoiar o comércio local
Se queremos mesmo comprar um presente, então uma boa ideia é usar o comércio local ou produtores portugueses. Assim poupamos as emissões do transporte e apoiamos a economia local, promovendo a sustentabilidade social e económica. Talvez muitos não tenham pensado nisto, mas há toda uma classe de artesãos em Portugal, que vendia quase toda a sua produção em mercados de rua e estes devido à pandemia não estão a acontecer. Estas são pessoas que vivem a 100% dos seus trabalhos manuais e neste momento estão praticamente sem ganha-pão. Podemos usar as possibilidades das redes sociais para chegar a estas artesãos e comprar presentes com muito mais história que um brinquedo embrulhado em plástico do continente.
Este saco é feito por uma designer portuguesa, que não só merece todo o nosso apoio pelo seu talento, mas porque faz os seus artigos em lonas publicitárias reutilizadas! Literalmente quilómetros de lonas que iriam para o lixo e ganham nova vida pelas mãos da Recreate
4. Comprar com propósito
Quantas vezes não recebemos um bibelot, gadget ou carteirinha completamente neutra e temos a certeza que quem dá (com a melhor intenção, seguramente) comprou dez iguais para oferecer a dez amigos? Se usarmos uns minutos para pensar no propósito dos presentes, vamos aumentar substancialmente a probabilidade de o nosso presente não ir parar à gaveta e passado uns anos ao lixo… Um truque é ir comprando os presentes ao longo do ano quando vemos algo que nos lembra a pessoa a quem queremos dar. Este truque também é bom para não levarmos um arrombo no orçamento cada Natal!
5. Escolher com qualidade
Um dos grandes problemas do consumismo moderno, é que as coisas que compramos são produzidas com materiais baratos e à pressa, para termos um produto final mais barato. É um exercício importante pensar sempre “vou comprar esta T-shirt a 5€, como pode custar tão pouco?”. Este baixo custo é sempre à custa de algo ou alguém, normalmente do meio ambiente ou das pessoas que produzem em condições de exploração. Comprar com qualidade é importante tanto para nos certificarmos que foi produzido em condições responsáveis, como para sabermos que a pessoa que vai receber o presente vai poder usá-lo por muitos anos e não vai parar ao lixo passado pouco tempo. Sugiro um perfil de Instagram muito interessante que reúne marcas portuguesas de qualidade com coisas de perder a cabeça: The Portuguese List
Importante também é relembrar que, no caso dos brinquedos, as crianças querem-nos para brincar. Se forem de má qualidade, e se partirem na primeira semana, de pouco servem. Pelo contrário, se forem interessantes e resistentes, podem fazer as delícias de várias crianças e até de várias gerações.
6. Comprar em segunda mão
Não é nenhuma vergonha comprar em segunda mão. Na verdade, há muitos sítios online e offline onde podemos comprar artigos novos ou quase novos. Às vezes o velhinho é muito charmoso! Pensem bem, não terá muito mais significado comprar um presente em segunda mão pensado para quem vamos dar, em vez de um qualquer artigo neutro igual a milhares no mercado? Se ainda for difícil ultrapassar este tabu muito enraizado na sociedade portuguesa de que é uma vergonha (ou mesmo anti-higiénico) comprar em segunda mão, escreve um cartãozinho explicando o porquê do teu presente. “Comprei este lenço de seda, que tinha a tua cara, numa loja vintage. Estava à espera de uma nova vida e sei que és a melhor para o adotar”.
7. Dar presentes consumíveis
Esta é uma forma de presentear que nunca falha! Delícias para comer e beber: mel, bolachas, chá, vinho… Artigos de cuidado pessoal: cremes, sabonetes…. Temos um mundo de opções. Para levarmos a nossa vontade de ajudar a salvar o Planeta até ao fim, devemos escolher produtos locais, biológicos e embalados em materiais recicláveis.
Chá biológico cultivado e seco artesanalmente no Alentejo pela Folhas
8. Escolher eco-responsável
Para quem de nós já está um pouco habituado a usar produtos mais amigos do ambiente, como por exemplo champô sólido ou sabonetes sem embalagem, o Natal é uma ótima oportunidade para dar a conhecer estes hábitos aos mais céticos. Experimentem oferecer um champô seco explicando simpaticamente o que a adoção deste produto pode significar para o meio ambiente. Assim só e calculando por baixo, se 10 milhões de portugueses usarem dois frascos de champô em media por ano, temos 20 milhões de frascos de plástico por ano em Portugal, onde não temos capacidade para reciclar…
9. O sonho (ou será pesadelo?) dos brinquedos
Sabemos que como pais muitas vezes é difícil resistir aos olhos suplicantes dos nossos filhos que nos pedem o brinquedo que viram no anúncio do Canal Panda. No entanto, devemos lembrar-nos que a responsabilidade da escolha e de dar o exemplo é nosso como adulto. Algumas maneiras de dar a volta a esta questão são por exemplo:
- deixar os presentes “do mal” para os avós, que são quem mais dificuldade tem em defender-se dos olhos suplicantes, e nós como pais darmos algo mais útil e com menos plástico. Um bom exemplo são os brinquedos portugueses sem plástico da Oficina do Achado;
-falar com os familiares e amigos que costumam dar “lembrancinhas” e explicar que as crianças têm o quarto cheio de brinquedos com que não brincam e se quiserem mesmo dar algo pode ser um livro, algo de comer, uma experiência.
É difícil porque o nosso coração se alimenta no Natal da alegria das crianças a abrir presentes, mas é por uma causa maior!
Embora os livros sejam feitos de papel, são uma boa opção para as crianças porque um bom livro dura muitas vidas e raramente se deita para o lixo. Escolham bem! A Planeta Tangerina e a Bruaá são duas editoras portuguesas com livros infantis muito inovadores e lindos, podemos apoiar talentosos criadores portugueses. É uma excelente alternativa a comprar um brinquedo de plástico embrulhado em plástico.
10. Embrulhos reciclados ou reutilizáveis
Por fim, mas não menos importante, os embrulhos! Tanta coisa linda que se pode fazer usando papel de revista, desenhos de criança que temos guardados na gaveta, caixinhas pintadas de novo, papeis reciclados decorados com carimbos de batata… Acima de tudo, uma mensagem importante: quando embrulharem os vossos presentes tenham em conta que a fita cola corrente não é reciclável. Ou seja, todo o papel que tenha fita cola ou uma cobertura de plástico, vai para o lixo comum. Evitem a fita-cola, usem fita de papel reciclável ou cola vegetal. Um saquinho reutilizável feito em casa de restos de tecido será uma boa opção para os mais prendados.
A todos umas Festas com menos compras e mais significado!
Ah!! Comprar ao longo do ano…. Não consigo guardar os presentes… Parece que queimam nas minhas mãos. Ehehe! Quando faz todo o sentido tenho de oferecer logo. Adoro dar presentes fora da hora. Depois “na hora” pode é não haver eheh!! E tudo bem!
Mas o que gosto mais é de oferecer consumíveis.
Mas realmente, enquanto sociedade precisamos repensar toda esta necessidade que temos de presentear/agradar através de bens materiais. Eu sugiro oferecer coisas que não acumulem pó : partilhas, presenças, momentos especiais, abraços, palavras… Coisas que caibam para sempre nas memórias. ☺️