Porquê comprar em segunda mão é uma escolha responsável (e divertida!)

Andava há já algumas semanas para comprar canecas e copos para o nosso novo espaço Planeta R. Ainda não temos um espaço aberto ao público, mas já recebemos alguns parceiros para reuniões e gostava de lhes oferecer um chá ou um café. Há uns anos isto seria facilmente solucionável para mim. Centro comercial. Uma qualquer loja de decoração da moda ou hipermercado. Várias lindas e viajadas canecas vindas da China. Pim, pam, pum, já está.

Hoje tenho um vicio: desafiar constantemente os meus hábitos de consumo. Imediatamente o cérebro começa a disparar. “Preciso de canecas. Preciso? Sim, preciso. Tenho em casa algumas que possa usar? Não, não tenho suficientes. Posso comprar em segunda mão? Vou ver online. Não há nada de jeito online. Vou à loja se segunda mão mais próxima”.

O amor pela caça ao tesouro usado

Visitar lojas e mercados de segunda mão é um dos meus passatempos preferidos. Na Dinamarca, onde vivi durante seis anos e onde nasceu o meu filho, era um dos nossos programas número um em família. Hoje sinto muitas saudades destes mercados e lojas, onde me viciei no suspense de procurar (muitas vezes no meio do caos) e na excitação de encontrar tesouros.

Confesso que este amor não me surgiu de um dia para o outro! Ao início fazia-me confusão, especialmente a roupa porque sou muito sensível a cheiros e tinha medo que mesmo lavando não saíssem. Mas hoje, embora ainda cheire sempre as coisas (LOL), percebi que quase todas as coisas se podem lavar e higienizar em condições.

Em Portugal, a cultura de comprar em segunda mão é muito menor que na Dinamarca e diferente. Visto que os portugueses têm menos poder de compra, existem menos produtos de alta qualidade a circular no mercado, e os que chegam ao comércio de segunda mão são poucos e nem sempre em bom estado. Mas se se procurar bem, sempre se encontra umas maravilhas!

Voltando às minhas canecas e aos meus copos, desafiei o marido na hora do almoço, e num ato de nostalgia do usado fomos à única loja de segunda mão da nossa zona. E vejam se não são lindos as minhas novas canecas e os meus copos vintage com jarro?!

jarro e copos vintagecanecas para chá ou café

Adorei visitar pela primeira vez a minha loja de usados local e vou volta para com entusiasmo percorrer com os olhos e as mãos as claramente sobrelotadas prateleiras.

6 vantagens de comprar coisas usadas

Eu não precisaria de outras razões para comprar em segunda mão, como veem a própria experiência de navegar entre os artigos com história chega-me, mas aqui ficam algumas:

  1. Ao comprar usado irás utilizar algo que provavelmente ia para o lixo
  2. Evitas que se produza e transporte um novo produto poupando o CO2 da fabricação e transporte
  3. As coisas usadas não carecem de embalagens, sendo normalmente embrulhadas em jornais velhos ou colocadas em sacos reutilizados
  4. Vais também poupar! Eu paguei 9€ por 7 canecas, 3 copos e um jarro. Num sítio barato tudo isto não me custaria menos de 15€ se comprasse novo.
  5. Em segunda mão podes comprar muito melhor qualidade e artigos que se calhar não terias possibilidade de comprar se fossem novos. Pelo menos 40% do meu guarda-roupa é em segunda mão e duas das peças que mais gosto são dois casacos de 100% caxemira. Um cardigã 100% caxemira custa nas lojas da moda cerca de 100€. Provavelmente eu nunca compraria um casaco deste preço, mas agora tenho dois e paguei 9€ por cada um numa loja de caridade em Copenhaga. Já me duram há três ou quatro invernos com zero borbotos e faço um brilharete que não faria com o cardigã da Zara...
  6. Ao refletir sobre a responsabilidade do teu consumo dás o exemplo aos que te rodeiam

Objetos usados da nossa vida

Para os deixar numa nota mais concreta, deixo aqui alguns exemplos de peças compradas em segunda mão que me dão alegria todos os dias na minha casa.

comoda vintage restaurada

Cómoda, custou 33€ em 2015 quando eu estava grávida. É de madeira maciça, as gavetas deslizam maravilhosamente embora não tenha calhas modernas. Os puxadores foram comprados numa lojinha de uma associação de surdos em Copenhaga, onde vivíamos. O pai lixou e pintou, a mãe forrou as gavetas com papel bonito para arrumar as roupinhas enquanto sonhava como seria o bebé que estava na barriga. Ao todo com tinta e puxadores terá ficado em 65€, mas continua aqui para as voltas e é tão alegre!

posters vintage Dinamarca

Dois pósteres turísticos dos anos 60 comprados pela minha sogra (guru dos achados vintage!) que os tinha guardados para uma ocasião especial. Estão no quarto do neto único. Simplesmente adoro as cores! Comprei as molduras novas porque infelizmente é super difícil achar molduras em bom estado e preço acessível usadas em Portugal.

almofada de design padrão colorido

Almofada de design literalmente comprada no meio da rua em Copenhaga. Estava nova, o interior é de penas e a capa tira-se para lavar. Após várias lavagens continua nova! 5€ em 2016.

copos de vinho vintage

Copos de vidro muito fino decorados com bolinhas. Prometeram-me que eram dos anos 30, não acredito muito, mas gosto muito deles. Oferecidos pelo meu pai após o meu regatear num mercado. 24 copos por 35€. A encantar desde 2015.

banco design dinamarques estampado

Banquinho forrado à mão, onde me sentamos para contar histórias à hora de deitar. 20€ e a cantar desde 2014 e está para durar!

Gostos não se discutem, mas digam lá que não são mais charmosos os meus tesourinhos que os equivalentes chapa cinco do Ikea? Mesmo eu com a minha má memória me lembro onde comprei e quanto custaram. A história destes objetos é testemunha da reflexão para comprar responsavelmente.


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  • Andreia on

    Ah!!! Revejo-me tanto neste artigo! Adoro achados!! Assim mesmo… no meio da feira, no meio da tralha! Isso vem de há muito tempo, mas só recentemente se tornou verdadeiramente consciente (pelos motivos que aqui escreves) e ainda luto por pensar nessa alternativa como a primeira. A urgência é inimiga da consciência – precisamos de desacelerar a vida para usufruir dela plenamente. Obrigada por este artigo! Vou só acrescentar um ponto que acho interessante… muitas vezes encontramos nestas vendas de 2ª mão coisas nunca usadas (ex. roupa com etiqueta), o que diz muito do excesso da nossa produção e do nosso consumo. [chego a pensar que se tudo parasse os seres humanos tinha copos, calças e sapatos por duas gerações eheheh] . R de pensar.


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